Viagem a Ítaca

Quando começares tua viagem a Ítaca
pede que o caminho seja longo,
cheio de aventuras, cheio de experiências.
Não temas aos lestrigões nem aos ciclopes,
nem ao colérico Possêidon,
tais seres jamais acharás em teu caminho,
se teu pensar for elevado, se seleta
for a emoção que toca teu espírito e teu corpo.
Nem aos lestrigões nem aos ciclopes
nem ao selvagem Possêidon encontrarás
se não os levares dentro de tua alma,
se não os ergue tua alma diante de ti.

Pede que o caminho seja longo.
Que sejam muitas as manhãs de verão
em que chegues - com que prazer e alegria!-
a portos antes nunca vistos.

Detém-te nos empórios de Fenícia
e mostra-te com belas mercadorias,
nácar e coral, âmbar e ébano
e toda sorte de perfumes voluptuosos,
quanto mais abundantes perfumes voluptuosos possas.
Veja muitas cidades egípcias
a aprender, a aprender de seus sábios.

Tenha sempre Ítaca em teu pensamento.
Tua chegada ali é teu destino.
Mas não apresses nunca a viagem.
Melhor que dure muitos anos
E atracar, velho já, na ilha,
Enriquecido de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar que Ítaca te enriqueça.

Ítaca te ofereceu tão bonita viagem.
Sem ela não haverias começado o caminho.
Mas já não tem nada a dar-te.

Ainda que as ache pobre, Ítaca não te enganou.
Assim, sábio como te tornaste, com tanta experiência,
Entenderás já o que significam as Ítacas.


Konstantínos Kaváfis, no alfabeto grego: Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης, (Alexandria, 29 de abril de 1863 — 29 de abril de 1933) foi um poeta grego. Nascido numa familía grega radicada no Egito e tendo vivido dos sete aos dezenove anos de idade em Liverpool, Kaváfis era um cético e questionava a Cristandade, o patriotismo e a heterossexualidade.

A história, como o mito, é uma coisa mental. Kaváfis concorda consigo mesmo: os ciclopes, se aparecem, é porque habitam na alma humana. Como os bárbaros, os anseios e os medos são seres imaginários. Kaváfis toma partido pelo controle dos sentidos - por este exato meio aconselhado pelos sábios - mas, ato contínuo, recomenda o excesso e a voluptuosidade.

Parece contraditório, mas não é, melhor, é complementar. Entre o ascetismo e o hedonismo, o círculo se fecha, se fecha também o périplo de uma a outra Ítaca: da juventude à velhice, da pobreza à riqueza, da ignorância à virtude da sabedoria.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conceitos,somos criados seguindo regras,opiniões formada sobre o que é certo e errado na religião e em quetões sexual etc.E para que serve tudo isso? Somente para uma coisa,para que no futuro possamos ter caminhado uma parte do caminho para o inferno,pois esses conceitos só contribui para uma coisa,para nos tornarmos confusos e mergulhar num inferno de vida.Minha proposta,viva o avesso.
Pedro B.Sampaio